"Há alguns anos que, dos negros de Angola, fugidos ao rigor do cativeiro e fábricas dos engenhos desta capitania, se formaram povoações numerosas pela terra dentro entre os Palmares e matos, cujas asperezas e faltas de caminhos os têm fortificados por natureza do que pudera ser por arte e crescendo cada dia em número se adiantam tanto no Patrevimento que com contínuos roubos e assaltos fazem despejar muita parte dos moradores desta capitania mais vizinhos aos seus mocambos, cujo exemplo e conservação vai convidando cada dia aos mais que fogem para se livrar ao rigoroso cativeiro que padecem e se verem com a liberdade lograda no fértil das terras (...) para evitar este dano determino passar a Porto Calvo na entrada deste verão, lugar mais proporcionado para se fazer esta guerra e dali com contínuos troços de gente, que renda uma a outra, mandar abrir caminhos para os ditos Palmares por onde possam ser investidos e arrasadas suas povoações continuamente, até todo se extinguirem e ficar livre a capitania deste dano que tanto a ameaça; e posto que não poucas as dificuldades que para este fim se me oferecem pela aspereza das terras, falta de caminhos e de carruagem e para os mantimentos que em todo este estado não se podem conduzir senão às costas de negros por não haver estradas para carros, nem para mais que um homem atrás de outro (...) contudo espero que a boa diligência seja poderosa para vencer estes inconvenientes. Olinda, 1º de junho de 1671” (Carta do governador Fernão de Souza Coutinho ao rei de Portugal, citado por FREITAS, Mário Martins de. O reino negro dos Palmares. Rio de Janeiro. Bibliex, 1988, p. 53.) 1. De acordo com o texto, como a resistência de pessoas escravizadas desestabilizava o sistema colonial português? 2. Identifique no texto o argumento do governador-geral da colônia para justificar a resistência dos africanos à escravidão.
