DIREITO E AVESSO


Conheci uma moça que escondia como um crime certa feia cicatriz de

queimadura que tinha no corpo. De pequena a mãe lhe ensinara a ocultar aquela

marca de fogo e nem sei que impulso de desabafo levou-a a me falar dela; e creio

que logo se arrependeu, pois me obrigou a jurar que jamais repetiria a alguém o seu

segredo. Se agora o conto é porque a moça é morta e a sua cicatriz já estará em nada,

levada com o resto pelas águas de março, que levam tudo.

Lembrou-me isso ao escutar outra moça, também vaidosa e bonita, que

discorria perante várias pessoas a respeito de uma deformação congênita que ela,

moça, tem no coração. Falava daquilo com maldisfarçado orgulho, como se Ter

coração defeituoso fosse uma distinção aristocrática que se ganha de nascença e não

está ao alcance de qualquer um.

E aí saí pensando em como as pessoas são estranhas. Qualquer deformação,