O macaco e o gato Simão o macaco, e Bichano o gato, moram juntos na mesma casa. E pintam o sete. Um furta coisas, remexe gavetas, esconde tesourinhas, atormenta o papagaio; outro arranha os tapetes, esfiapa as almofadas e bebe o leite das crianças. Mas apesar de amigos e sócios, o macaco sabe agir com tal maromba que é quem sai ganhando sempre. Foi assim no caso das castanhas. A cozinheira pusera a assar nas brasas umas castanhas e fora à horta colher temperos. Vendo a cozinha vazia, os dois malandros se aproximaram. Disse o macaco: - Amigo Bichano, você, que tem uma pata jeitosa, tire as castanhas do fogo. O gato não se fez insistir e com muita arte começou a tirar as castanhas. - Pronto, uma... - Agora aquela de la... Isso. Agora aquela gorducha... Isso. E mais a da esquerda, que estalou... O gato as tirava, mas quem a comia, gulosamente, piscando o olho, era o macaco... De repente, eis que surge a cozinheira, furiosa, de vara na mão. - Espere al diabada! Os dois gatunos sumiram-se aos pinotes. - Boa peça hein? - disse o macaco lá longe. O gato suspirou: - Para você, que comeu as castanhas. Para mim foi péssima, pois arrisquei o pelo e fiquei em jejum, sem saber que gosto tem uma castanha assada. Lobato, Monteiro. Fábulas. São Paulo. Editora Brasiliense, 1994